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  • Foto do escritorDona Lã

O novelo desfia-se...

O caminho faz-se caminhando. A passos largos, a passos curtos, sozinho, acompanhado, depressa, devagar, alegre, triste, com ou sem vontade. Mas faz-se. Mesmo quando nem nos apercebemos que o estamos a fazer. É um bocadinho como o respirar, nem notamos que respiramos até ao dia em que nos custa respirar, até ao dia em que parece que sufocamos de raiva ou de dor, e aí somos obrigados a parar e a pensar: inspira, expira; inspira, expira; inspira, expira...


O novelo desfia-se tricotando. Ou "crochetando", ou entrançando, ou simplesmente desfiando e voltando a alinhar os fios para conseguir uma qualquer ordem que para nós faça sentido, ainda que aos olhos de outros seja uma desordem ou uma não ordem.


Há aqueles dias em que caminhas e nem te dás conta. Tudo flui, tudo segue o seu caminho de forma automática, programada, sem bugs nem debugs, nem precisas de pensar no que está a acontecer. Só deixas acontecer.


Há novelos que são tão fáceis de trabalhar, que as agulhas entram numa dança mágica com o fio e tu estás ali apenas a observar, a ver onde eles se levam um ao outro e percebes que foi a melhor opção, deixá-los dançar.


Há os outros dias. Aqueles dias em que tens que te obrigar a caminhar, tens que pedir ao teu corpo para colaborar, às tuas pernas para andar, à tua mente para se libertar, para parar por algum tempo de se debater com os se, mas, porque sim, porque não e concentrar-se apenas em comandar os teus membros e pô-los a desempenhar as suas funções o melhor possível. Podias parar, deixar-te consumir pelos teus pensamentos, mas na verdade, o tempo continua, o caminho continua, e só tu ficaste parado, isolado, desalinhado, descontinuado...


Há novelos que parecem impossíveis de trabalhar. Fazes e desfazes, começas, desmanchas, recomeças, tentas de novo, inventas outro ponto, procuras outra receita, mas não paras. Podias parar, desistir deste novelo e procurar outro bem mais fácil, bonito, óbvio, mas o outro, o que tu rejeitaste, vai continuar lá. Ninguém o vai desfiar por ti, ninguém o vai tornar mais fácil para ti. É teu! Agarra nele, não desistas dele.

Faz do teu pior novelo a tua melhor obra. And be proud of it!




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