top of page
  • Foto do escritorDona Lã

Malmequer, Bem-me-quer

Atualizado: 19 de fev. de 2019

Lembro-me de ser miúda e de apanhar malmequeres no quintal da minha mãe e desfolhá-los à procura de uma resposta que me agradasse: "malmequer, bem-me-quer, muito, pouco, nada; malmequer, bem-me-quer, muito, pouco, nada..." Nada? Este malmequer não presta! Ia buscar outro e recomeçava a ladainha, até encontrar um que terminasse em "muito". Aí sim, ficava satisfeita com o resultado e segura de que aquele alguém especial gostava muito de mim!


Há novelos que parecem muito feios, ficam dias e dias a fio na prateleira da retrosaria, à espera que alguém lhes pegue. Renova-se o stock, e o novelo continua lá, intacto... Então é colocado em destaque e nem assim... continua a ser deixado, em detrimento de outros bem mais coloridos e suaves ao toque. Até que chega a altura em que não há outra solução: pô-lo em promoção! Vamos lá, toca a comprar o novelo desprezado que ninguém quer, aquele que todos deixaram para trás e que, muito provavelmente, nem viram. De repente, tornou-se visível e até já começou a tornar-se bonito, ou pelo menos não tão feio.


O amor que têm por nós, às vezes pode ser muito relativo: hoje dizemos uma coisa que agrada, somos muito amadas, a melhor amiga, a melhor pessoa do mundo. Amanhã dizemos uma coisa menos simpática e passámos a ser uma pessoa desagradável, pouco amada, muitas vezes até ignorada. O mesmo acontece com os nossos atos: quando fazemos algo que até agradou a alguém, chamemos-lhe Sr. Fulano, somos bestiais; mas se no mesmo dia fizermos algo que não cumpra os padrões do mesmo Sr. Fulano, conseguimos descer a rampa com velocidade tal, que já nos transformámos em bestas. Extraordinário!


Só depois de nos deixarmos aliciar por aquela bendita promoção e começarmos a olhar com outros olhos para aquele malfadado novelo, percebemos que, afinal, não era tão feio quanto isso. Mais! Agora que o começámos a trabalhar, vemos o magnífico resultado que conseguimos obter com ele. E fomos nós que o comprámos, talvez iludidos pela promoção, mas fomos nós, só nós! Conseguimos descobrir valor e qualidades superiores naquele que ningém queria, naquele que ninguém escolheu, naquele que ninguém amou.


Entre subidas e descidas, conseguimos manter-nos fiéis a nós próprios, mesmo mal amados ou desdenhados, não nos vamos pôr em promoção. O nossos caráter, a nossa personalidade, a nossa consciência não baixa o seu valor, não entra em saldos e não permite qualquer desconto. E ainda bem! Porquê? Porque no final, o que nos resta, é mesmo só o nosso caráter, a nossa personalidade e a nossa consciência. E os que gostaram ou desgostaram, amaram ou odiaram, esses continuarão numa busca incessante daqueles que agradam em todos os momentos, que concordam em todas as situações, que bajulam sempre que o ego do tal Sr. Fulano precisa de ser massajado.


Que bom, terminar um novelo e ver que alcançámos um trabalho magnífico!


Que bom, chegar ao fim do dia e ver que continuámos a ser nós próprios!




26 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Boho chic

Interregno

Post: Blog2_Post
bottom of page