Dá Deus novelos...
- Dona Lã
- 26 de fev. de 2019
- 2 min de leitura
... a quem não tem agulhas. Que tristeza, uma pessoa recebe novelos lindos e depois nem agulhas tem para tricotar qualquer coisinha... ou só uma e já se fazia qualquer trabalhito em crochet... mas não, nem uma... e lá fica a pobre pessoa desafortunada e olhar para os seus lindos novelos, que não pode usar... e a vizinha do lado cheia de inveja...
Devem ter-se lembrado do outro a quem Deus deu nozes e ele nem dentes tinha. Pobre desgraçado. A vida é mesmo injusta. Deve ter ficado a lamuriar-se, a chorar, a olhar para as suas lindas nozes que nunca poderia provar, e alguém ao seu lado a cobiçá-las.
Ou não! Sabem o que fez o homem das nozes? Pegou nelas e levou aos amigos, partilhou, ele não as podia mastigar, mas todos os outros podiam.
- Vamos lá amigos, provem estas nozes maravilhosas que Deus me deu.
E sabem o que fizeram os amigos? Provaram as nozes, confirmaram que eram maravilhosas e não demoraram muito a perceber como iam ajudar o grande amigo a prová-las: um pegou num almofariz, esmagou-as tão bem, que o amigo conseguiu comer nozes à colherada; o outro levou-as à mulher, que as picou e com elas fez um maravilhoso bolo de noz. E não é que Deus soube o que fez?
Às vezes focamo-nos tanto nos nossos novelos, nas nossas desventuras, que nem nos viramos para ver o que nos rodeia. Vamos pegar nos novelos e pedir a quem tenha agulhas, se nos pode emprestar uma. E se não emprestarem, não faz mal, trabalhamos o novelo só com as mãos, fazemos tranças, pompons, o que bem nos aprouver, porque nunca nos chega nada maior do que aquilo que podemos aguentar. E quanto àquilo que a pessoa do lado recebeu, e que preferíamos ter sido nós a receber, não vale a pena pensarmos nisso. Se não veio para nós, é porque não nos era destinado, aquela outra pessoa fará melhor uso ou, quem sabe, não virá partilhar connosco?

E que bom seria se esses valores se continuassem a cultivar e proliferassem como as pragas... 😉
Muitas vezes do que se trata é de ter tido quando é importante e essencial (começa no berço) as mesmas oportunidades, as mesmas condições, para depois acrescentarmos as capacidades e o engenho pessoal de cada um de nós. Não concordo nada com a teoria que as dificuldades e a falta de meios nos traz a aptidão do improviso e do desenrasca, dos quais normalmente nos orgulhamos muito. Apesar de poder ser assim, como sabemos, nada substitui uma preparação especifica, uma educação com meios e um entorno adequado. Gente bem formada não inveja, aplaude e valoriza quem aproveita as nozes que ele não conseguiu conquistar, e a galinha da sua vizinha nunca é melhor, mas diferente da minha.