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  • Foto do escritorDona Lã

Arrumar os novelos

Chega a uma altura em que olhamos à nossa volta e vemos os novelos todos misturados uns com os outros: pegámos num para começar um trabalho, mas depois já não o arrumámos porque, claro, apareceu qualquer outra coisa ou pessoa ou pensamento que nos levou muito para lá daquilo que estávamos a fazer e puf! Lá ficou ele, desirmanado, sozinho e à espera. E se fosse só um, nem havia grande questão à volta do tema (mas aí, também não tinha assunto para este post). Mas não, isto aconteceu n vezes, como daquela vez em que tínhamos a certeza que aqueles dois novelos de cores diferentes iam dar uma experiência única, começámos o trabalho, até já estávamos com algumas carreiras feitas, mas depois apareceu outro novelo muito mais interessante, ou vimos outra imagem espetacular de um trabalho que queríamos mesmo fazer e lá ficaram mais dois novelos, de lado, "waiting, watching the clock..." (e porque não ir ouvindo enquanto lêem o resto do post?)


E há um dia em que acordámos com aquela força inesgotável de quem consegue tudo, de quem está determinado a mudar alguma coisa, a fazer acontecer e a organizar tudo à sua volta. Começamos a pensar o que temos para fazer, a organizar o dia, a fantasiar tudo organizado e imaculado, e melhor ainda, esta é a minha parte preferida: acreditamos piamente que ficará assim PARA SEMPRE!!! Esta dá-me mesmo vontade de me atirar ao chão a rir! Arrumado e organizado para sempre! Ah, ah ah! Muito bom! Hilariante!


Pegamos nos fios que ficaram soltos, desembaraçamos, tiramos nós, voltamos a enrolar no novelo, separamos por cores e, com um bocadinho mais de tempo e dedicação, ainda catalogamos, bem, etiquetamos, com a ideia que temos do que faremos com aquele novelo e talvez ainda para quem será e, à boa maneira do nosso povo, quando estará pronto, podendo já contemplar ou não a derrapagem temporal das malditas obras de Santa Engrácia.


Nada ficaria arrumado e organizado para sempre. E ainda bem! Porquê? Porque seria um indicador de não utilização. E teria certamente um sinal gigante dizendo:


É FAVOR NÃO USAR, NÃO MEXER, NÃO TIRAR, NÃO VIVER!

MANTENHA COMO ESTÁ! PARA SEMPRE!

E JÁ AGORA: SEJA INFELIZ!


É preciso tirar da ordem, é preciso mexer, é preciso experimentar, é preciso viver, é preciso errar, é preciso voltar a tentar. E depois, quando conseguimos novamente qualquer ordem que no nosso íntimo faça sentido, ficamos preenchidos daquela sensação magnífica de missão cumprida, sentimos paz, parece que tudo ficou tranquilo à nossa volta e podemos finalmente acalmar também, só estar, só apreciar a nossa ordem, a nossa organização, a nossa arrumação. Física. Mental. Emocional.

E já agora: ser felizes!




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